Casas Abandonadas
Muita gente cresceu assistindo ao desenho animado Caverna do Dragão. Para Liu, explorar uma casa abandonada era como entrar em um daqueles episódios cheios de mistério e aventura. Havia algo de mágico naquilo.
As casas que ele costumava
visitar pertenciam a seus avós e tios, que haviam se mudado para a cidade e as
deixado para trás. O tempo fez seu trabalho: os telhados abrigavam morcegos, o
interior era tomado por teias de aranha e o mato invadia os cômodos. Mas nada
disso o assustava—pelo contrário, era exatamente o que tornava tudo mais
emocionante.
Liu e seus amigos transformavam
essas incursões em desafios. Com uma baliadeira—como era chamado o estilingue
por lá—tentavam acertar os morcegos e derrubar ninhos de marimbondos. Era uma
missão arriscada. Às vezes, os insetos reagiam mais rápido do que esperavam, e
alguém saía correndo com uma ferroada ardendo no rosto. Mas isso fazia parte da
diversão.
As casas abandonadas tinham um ar
sombrio. Algumas eram tão escuras por dentro que pareciam esconder segredos. O
silêncio só era quebrado pelo som do vento atravessando frestas nas janelas
quebradas ou pelo ruído inesperado de um animal se mexendo entre os escombros.
No início, Liu entrava acompanhado—era mais seguro. Mas, com o tempo, aquilo se
tornou fácil demais. Ele queria mais. Queria testar sua coragem de verdade.
Muitas vezes, ficou parado diante
da porta de uma dessas casas, sentindo o frio do medo percorrer sua espinha. O
instinto lhe dizia para voltar, mas a curiosidade o empurrava para dentro. Até
que, um dia, decidiu não recuar.
Caminhou devagar, sentindo o chão
ranger sob seus pés. O cheiro de madeira velha e poeira tomava o ar. De
repente, um farfalhar acima de sua cabeça fez seu coração acelerar. Antes que
pudesse reagir, uma revoada de morcegos explodiu do teto, rodopiando ao seu
redor como um redemoinho negro. Por um segundo, ele se viu no meio de uma cena
de Batman, quando o herói entra em sua Batcaverna.
O susto foi maior do que
esperava. Sem pensar duas vezes, correu para fora, sentindo o sangue pulsar nos
ouvidos. Mas, ao recuperar o fôlego, começou a rir sozinho. Seu grande desafio
terminara em fuga.
Depois disso, nada mais parecia
tão ameaçador. O medo deu lugar à curiosidade. Cada casa abandonada guardava
uma história, e Liu se pegava imaginando como havia sido a vida daquelas
pessoas antes de partirem. Algumas dessas casas não pertenciam à sua família, e
saber sobre o passado delas se tornou uma missão.
À noite, sentado ao redor da
fogueira ou na varanda, ele escutava as histórias dos mais velhos. Cada relato
era um convite para uma nova aventura, um novo mistério a ser explorado. E,
assim, sua busca por aventuras nunca terminava.
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